Brasília. Na véspera do fim do prazo legal para o pedido de registro da candidaturas, o PT mobilizou, ontem, sua militância. Em Brasília, houve a chamada "Marcha Nacional Lula Livre", que partiu no sábado de três localidades a 50 km da capital federal para pedir que o petista, que desde abril cumpre uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, possa participar da disputa.
Hoje os manifestantes devem marchar até a sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde membros do PT, entre eles o companheiro de chapa escolhido por Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, vão pedir o registro da candidatura.
As marchas coincidem com uma greve de fome que sete ativistas fazem há 15 dias em Brasília para pedir a liberdade do ex-presidente da República.
Lula, de 72 anos, é o favorito nas pesquisas com quase um terço das intenções de voto, mas, segundo juristas, a sua candidatura provavelmente será impugnada, dado que a Lei da Ficha Limpa, promulgada durante o seu governo, exclui da disputa eleitoral os condenados em 2ª instância, como é o caso. O ex-presidente foi condenado como beneficiário de um tríplex no Guarujá, litoral paulista, oferecido pela construtora OAS em troca de contratos com a Petrobras. Enfrenta outros cinco processos, mas se declara inocente em todos e denuncia uma perseguição política e judicial para impedi-lo de voltar ao poder.
Também impedido pela Justiça de participar dos debates televisivos, Lula busca fazer a sua mensagem chegar por outros meios. Em uma coluna publicada ontem no "The New York Times", Lula voltou a denunciar que a sua prisão em Curitiba é a "a última fase de um golpe em câmera lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil".
O TSE, que tem como limite 17 de setembro para julgar a candidatura de Lula, demorará alguns dias, ou até mesmo semanas, para decidir.
Se a candidatura de Lula for efetivamente impugnada, o PT teria pouco tempo para fazer campanha por Haddad, que provavelmente o substituirá.
"O PT sabe que não vai ser Lula, mas a estratégia é que a força de Lula chegue no limite máximo possível para que o candidato oficial, Haddad, tenha mais força com a transferência de votos", explica o analista político André César, da consultora Hold. "É uma aposta arriscada, porque não existe uma transferência imediata de votos".
Greve de fome
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, recebeu, ontem, em seu gabinete, o frei Sergio Gorgen, um dos sete manifestantes que está em greve de fome para pedir a soltura de Lula.
Também participaram do encontro o ativista dos direitos humanos argentino Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, bem como outros representantes de movimentos sociais, artistas e juristas. Eles entregaram um abaixo-assinado com 240 mil assinaturas a favor de Lula.